#01 - Do Dev ao CTO
Como reconhecer o momento de mudar o foco da execução para a decisão
A maioria das pessoas sabe trabalhar no operacional. Algumas evoluem, aprendem e dominam o tático. Mas poucos realmente desenvolvem o pensamento estratégico. E, é aí que muita gente trava.
Essa transição exige uma mudança profunda na forma de pensar. E, muitas vezes, essa mudança é contraintuitiva.
Do Fazer ao Pensar
No início da carreira, a meta é mostrar que você sabe fazer. Entrega rápida, código limpo, presença constante. A recompensa vem do volume. E faz sentido: é assim que se aprende a base da execução.
Com o tempo, fazer mais do mesmo não gera evolução. Apenas conseguimos executar mais rápido porque já sabemos como deve ser feito. Naturalmente, nos sentimos mais seguros, passamos a buscar mais desafios e tarefas mais complexas.
Mas o que acontece com as tarefas mais simples?
Elas passam a ser delegadas. Pessoas menos experientes podem executá-las, e é nesse ponto que começamos a orientar os outros. Entramos no caminho do aconselhamento técnico, ajudando colegas a tomar decisões melhores ou mais eficientes.
Esse é o início de uma transição importante: a liderança técnica. E isso é tático.
O simples fato de ajudarmos outras pessoas do time a serem mais eficientes, garantindo alinhamento de soluções, revisando código, sugerindo melhorias ou antecipando problemas é uma forma de atuação tática. Não estamos apenas executando tarefas, estamos ajudando o time a entregar melhor.
Com o tempo, essa atuação evolui: começamos a participar mais da organização das entregas, da definição das prioridades e do planejamento. Entendemos que nem tudo depende apenas do nosso código. Essa compreensão é o que nos move em direção ao pensamento estratégico.
O Caminho: Operacional → Tático → Estratégico
Vamos a um exemplo prático:
Operacional: um desenvolvedor recebe uma tarefa, entende o escopo, pesquisa, executa.
Tático: um tech lead divide uma funcionalidade em tarefas, alinha com o time, acompanha.
Estratégico: um CTO entende os objetivos do negócio, avalia alternativas, estima riscos, custo e tempo. E toma decisões considerando múltiplas variáveis.
Essa escadinha, do fazer, para o organizar, até o decidir, representa uma mudança de atuação, mas também de responsabilidade.
No nível operacional, o valor está na entrega. No nível tático, o valor está na fluidez do time. No nível estratégico, o valor está na direção e no impacto.
Quanto mais avançamos nessa escala, menos o foco está em “como fazer” e mais em “por que fazer”, “quando fazer” e “se devemos fazer”.
É aí que surgem decisões difíceis, que envolvem renúncias, trade-offs, alinhamentos e riscos. Pensar estrategicamente é isso: tomar decisões considerando múltiplas variáveis (tempo, esforço, custo e outros fatores).
Pensar estrategicamente não é sobre ter todas as respostas. É sobre fazer as perguntas certas antes de sair executando, por exemplo:
Qual é o real objetivo do negócio?
Qual o timing certo?
Quais os recursos e restrições?
O que pode dar errado?
O que acontece se nada for feito?
Já vi produtos serem refeitos três vezes porque ninguém parou para pensar no cenário. O código era ótimo. A arquitetura também. Mas a escolha era incompatível com o momento da empresa.
O Peso da Intenção
Estratégia trabalha com intenção. É decidir com base em contexto, restrições, impacto e timing. E nem sempre a melhor ideia é a certa. Às vezes, a decisão certa é a mais viável agora, mesmo que não seja a mais bonita.
Um antigo chefe me disse algo que nunca esqueci:
“Temos que pensar e defender os interesses da empresa.”
Essa frase, simples à primeira vista, é a essência do pensamento estratégico. Ser estratégico é abrir mão do ego e fazer o que o contexto exige.
É por isso que, muitas vezes, a melhor decisão não é a que brilha, mas a que sustenta. A que move. A que permite dar o próximo passo com firmeza.
E isso pesa. Porque a intenção carrega responsabilidade. Quando decidimos com clareza de propósito, aceitamos que haverá renúncias e que elas são parte do caminho.
O peso da intenção é o peso de quem escolhe não só o que fazer, mas porque fazer.
A transição para o pensamento estratégico é algo natural depois que acumulamos experiência e, principalmente, quando temos as ferramentas adequadas para analisar cenários com clareza.
O pré-requisito é entender profundamente o negócio.
Para treinar seu pensamento estratégico, comece buscando clareza sobre os objetivos, aprimore sua habilidade de fazer perguntas relevantes e aprenda a avaliar trade-offs com realismo.
No próximo artigo, vamos aprofundar nas habilidades e ferramentas que fortalecem essa capacidade para que suas decisões tenham mais impacto e menos desperdício.